No Dia da Escola, 15 de março, o BAMIN em Ação convida os leitores a voltar os olhares para a importância da educação no Brasil, celebrando os avanços que marcam a história educacional. Em meio a tantas figuras que contribuíram para o desenvolvimento do sistema de ensino brasileiro, uma se destaca pela profundidade de suas ideias e pelo impacto de suas ações: o baiano Anísio Teixeira.
Nascido em Caetité-BA, cidade onde fica a Mina Pedra de Ferro da BAMIN, no ano de 1900, Anísio Teixeira é considerado um dos maiores pensadores e educadores brasileiros do século XX. Sua trajetória intelectual e pública foi marcada pela busca incessante por uma educação universal, gratuita, laica e de qualidade para todos. Ele defendia que a escola deveria ser o lugar onde se formariam cidadãos críticos e conscientes de seu papel na sociedade.
“Foi o maior educador brasileiro. Ele participou de todas as transformações na educação: desde o pré-escolar até a pós-graduação”, contou João Augusto Rocha, autor de três livros sobre Anísio Teixeira. Rocha também foi o organizador da Fundação Anísio Teixeira, fundada em Caetité, no ano de 1989. “Anísio foi muito brilhante e prático: pensava e fazia. Por isso, acelerou o processo na Educação Brasileira, sendo uma liderança nacional no movimento Escola Nova, com propostas de mudanças no sistema de ensino que focavam no aluno”, explicou o biógrafo, referindo-se ao movimento internacional que envolveu pensadores dos continentes americano e europeu na primeira metade do século XX.
Anísio saiu de Caetité aos 11 anos, enviado para estudar em Salvador, no Colégio Antônio Vieira. Formou-se, em 1922, em Direito pela Universidade do Rio de Janeiro, à época considerada a melhor do país. Foi um excelente aluno, destacando-se em todas as matérias. Muito católico no início da vida, desejou ser padre, mas o pai era um chefe político de Caetité e queria que o filho seguisse os seus passos na carreira política. Conseguiu que Anísio se tornasse um inspetor geral de ensino na Bahia, o equivalente a secretário de educação do estado. Assim, teve início a vida não como político, mas como gestor de educação, em 1924. No ano seguinte, em visita à Europa, Anísio conheceu o sistema educacional de alguns países de lá. Em 1927, foi aos Estados Unidos com o mesmo objetivo, encontrando aquele que se tornaria o seu grande amigo e mentor, o filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey, o mais influente educador do mundo.
Anísio Teixeira foi um homem de ação. “Tinha a vontade de realmente fazer acontecer. Com uma grande capacidade intelectual, transformava o conhecimento em coisas práticas”, descreveu o sobrinho bisneto Francisco Nelson Neves, engenheiro agrônomo. Com essa força, Anísio concebeu, na década de 60, durante o governo de João Goulart, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FUNDEB). “O que hoje existe do Fundo foi criado em cima do que foi teorizado por Anísio lá atrás, do seu entendimento de que a maior parte dos problemas da educação estava ligada à questão material, de recurso. Ele tinha a compreensão de que o professor precisava ser qualificado, a escola tinha de formar professores para que o sistema de educação pública fosse de qualidade. As licenciaturas foram concebidas por ele”, relatou Neves.
Anísio foi o grande responsável pela criação da Escola Parque, no Rio de Janeiro, em 1934, um modelo inovador de ensino em tempo integral que ele mesmo aprimorou para implementação em 1950 na Bahia. O projeto visava integrar as atividades pedagógicas ao ambiente natural, promovendo a aprendizagem por meio da experiência e da interação com o mundo. Além disso, Anísio teve um papel fundamental na criação da Universidade de Brasília (UnB) em 1962, buscando uma educação superior mais acessível e moderna. Durante a sua trajetória, trabalhou em colaboração com Darcy Ribeiro. A parceria entre os dois foi crucial para a realização de projetos educacionais inovadores que até hoje influenciam a educação brasileira. “Anísio idealizava e o Darcy executava junto com ele”, afirmou o sobrinho bisneto Neves.
As ideias e realizações revolucionárias de Anísio Teixeira incomodaram os governos autoritários brasileiros. Na Era Vargas, para a própria segurança, precisou se afastar do papel de gestor público, retornando à cidade natal aos 34 anos. De volta à região de Caetité, iniciou um novo capítulo da vida profissional, empreendendo no setor ferroviário e na mineração. Mas, a vocação para a gestão pública falou mais alto e, ao final do governo de Getúlio, vendeu as empresas, assumindo novamente o comando da Educação Brasileira após a construção de Brasília.
Com o Golpe Militar de 1964, precisou se afastar do Brasil e morou por dois anos nos Estados Unidos. De volta ao solo brasileiro em 1966, tornou-se consultor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Estava em campanha para ingressar na Academia Brasileira de Letras quando, em 13 de março de 1971, faleceu no Rio de Janeiro.
Que a história do ilustre caetitense Anísio Teixeira continue a inspirar gerações de educadores, estudantes e gestores para que, juntos, possam construir um futuro melhor por meio da educação.